É alarmante o número de jovens no Brasil que não trabalham nem estudam, batizando a chamada "Geração Nem-Nem". O país ocupa o segundo lugar na lista de nações da OCDE com mais jovens fora do mercado de trabalho e sem vínculo educacional, ficando atrás apenas da África do Sul. Mas por que essa realidade é tão evidente no Brasil? E por que a proporção é maior aqui do que em outros países?
Para entender essa questão, é fundamental analisarmos o processo de desenvolvimento do país. A automação e a transformação digital estão eliminando muitos postos de trabalho tradicionais, reduzindo oportunidades de emprego que antes eram mais acessíveis para os jovens. Além disso, o tamanho das famílias brasileiras diminuiu consideravelmente. Hoje, é raro encontrar famílias com mais de dois filhos, muitas vezes tendo apenas um. Essa mudança está ligada tanto a limitações financeiras quanto ao desejo dos pais de terem uma vida que equilibre criação dos filhos e realização pessoal.
Nesses lares menores, o filho único ou aquele que tem apenas um irmão geralmente recebe o melhor que a família pode oferecer: um quarto próprio, aparelhos eletrônicos de última geração, e a total atenção dos pais. O cenário de décadas passadas, em que vários irmãos dividiam o mesmo espaço e responsabilidades, já não é a realidade da maioria das famílias brasileiras. Nesse contexto, muitos jovens crescem em um ambiente onde podem opinar, contestar, reagir a regras e até se isolar no próprio quarto quando querem. Quando esses jovens ingressam no mercado de trabalho, frequentemente enfrentam um choque de realidade: salários iniciais baixos, necessidade de obedecer a ordens e uma falta de compreensão sobre o impacto de suas ações dentro de uma organização.
Para muitos dessa geração, o trabalho não é visto como uma oportunidade de crescimento, mas sim como uma obrigação sem recompensas aparentes.
Outro fator crucial é o processo educacional no Brasil, que deixa a desejar em muitos aspectos. O sistema educacional não oferece aos jovens a expectativa de melhores oportunidades financeiras no futuro. Além disso, o ambiente escolar muitas vezes é descrito como "tóxico": bullying, desrespeito aos professores, e até a presença de gangues que desencorajam os alunos. Para muitos, o estímulo para estudar ou trabalhar é praticamente inexistente. Do ponto de vista desses jovens, ficar em casa com os pais oferecendo uma mesada ou pequenos presentes parece muito mais atraente.
Em outros países, o ambiente escolar pode ser mais seguro, a educação é levada mais a sério, e o mercado de trabalho apresenta trajetórias de crescimento claras e promissoras. Aqui, no entanto, a "Geração Nem-Nem" continua crescendo, um reflexo de um sistema que não oferece incentivos convincentes para o jovem sair de casa e construir uma carreira.
A realidade é que, enquanto não houver uma mudança significativa nos sistemas de educação e trabalho no Brasil, a tendência é que essa geração continue a se multiplicar, gerando desafios ainda maiores para o futuro do país.