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O candidato de bermuda

Com mais de 30 anos de experiência na seleção de pessoas, tenho o privilégio de interagir regularmente com indivíduos de diversas idades e especialidades. No entanto, mesmo após tantas décadas, continuo a me surpreender com a falta de percepção que muitos demonstram em relação à própria carreira, especialmente durante o processo de entrevista.

Independentemente do desejo genuíno de ser admitido em uma empresa, é crucial preparar-se adequadamente para uma entrevista. Isso envolve não apenas entender o que a empresa faz, mas também investigar se seus valores estão alinhados com os da organização, analisar o nível de satisfação dos funcionários e considerar as críticas sobre o ambiente e as políticas internas. Da mesma forma, as empresas realizam uma análise detalhada de cada candidato, avaliando sua compatibilidade com a equipe e a cultura organizacional.

Há muitos anos, na época das entrevistas presenciais, um caso específico destacou-se como exemplo marcante. Um cliente internacional estava em meu escritório para entrevistar candidatos a uma vaga executiva. Entre os candidatos recomendados, um deles apareceu trajando uma bermuda. O cliente não hesitou em rejeitar o candidato imediatamente, sem sequer realizar a entrevista. Esse incidente tornou-se um símbolo para mim da importância de se apresentar adequadamente.

Ao longo da minha carreira, tenho encontrado muitos “candidatos de bermuda”: pessoas que demonstram falta de interesse em causar uma boa impressão. Esses candidatos frequentemente não se preparam adequadamente, chegam atrasados, se apresentam de forma inadequada ou conduzem a entrevista em ambientes perturbadores, como locais barulhentos ou com crianças ao fundo.

Para ilustrar, considere a analogia da fotografia: quando nos preparamos para uma foto, buscamos nossa melhor pose e sorriso para garantir que sairemos bem na imagem. Da mesma forma, durante uma entrevista, devemos nos apresentar em nosso melhor momento, mostrando profissionalismo e respeito.

Em um caso particularmente notável, acompanhei um processo em que um candidato participou de uma entrevista enquanto estava recostado na cama. O executivo responsável pela seleção questionou se essa postura era adequada aos padrões brasileiros, e, naturalmente, informei que não. Esse comportamento demonstra uma falta de respeito pelo processo de seleção e pela empresa.

Como profissional de Recursos Humanos, minha responsabilidade ao recomendar candidatos é imensa. Cada recomendação reflete não apenas na percepção que o cliente tem da minha equipe, mas também na integridade do processo de seleção. Infelizmente, ainda me deparo ocasionalmente com “candidatos de bermuda” que não compreendem a importância de se apresentar de forma adequada e profissional.

Em resumo, a preparação e o cuidado na apresentação são fundamentais. A impressão que causamos durante uma entrevista pode influenciar significativamente a decisão final. Portanto, investir tempo e esforço na preparação para uma entrevista não é apenas uma formalidade, mas uma etapa essencial para o sucesso na carreira